terça-feira, 26 de março de 2013

Minha amiga Morte!


Kali, deusa da Morte e da Sexualidade. A "negra", esposa de Shiva.Apesar da aparência de malvada, Kali é muito mal compreendida pelas pessoas. Ela mostra o lado escuro da mulher ou do trangenero e a verdadeira força feminina. Kali é venerada na Índia como uma mãe pelos seus devotos e devotas que esperam dela uma morte sem dor ou aflitos.

A Morte é o Arcano XIII no tarot, transformação.

É um número considerado indicativo de má fortuna e desgraças.
Existem prédios na America do Norte que não têm o 13ºandar.

Por estas bandas virou Borboleta, simbolo da transformação. A morte é transformação!
Mas quando ela entra pela porta da nossa casa toma uma outra dimensão.
Eu sou filha de pais velhos, tenho um pai com o dobro da minha idade...94 anos. Ele é um highlander, se acha e se sente imortal (apesar dos ossos que doem). Já vivi todos os tipos de paralisação perante a sua fragilidade. Diminui ritmo social, depois de trabalho, depois de vida própria e depois?
Por que a morte veio visitar o outro, no caso meu pai? Afinal quem está vendo a face da morte sou eu! Então comecei a me perguntar, o que esta senhora quer?
Eu posso morrer agora?
Fiz tudo direito?
Correspondi às minhas expectativas ou a dos outros?
O que eu tenho para contar quando chegar na outra?
Tem mais coisa para fazer? Para criar? Para Apreciar?
Estou viva mesmo ou apenas com medo de ir para o desconhecido?
Comecei a me lembrar de quanto prazer eu tenho de viver neste planeta. O por de sol, o mar...
as empadinhas, o pão de queijo, a Sangria...dançar, fazer amor...tão bonito por aqui...vale aproveitar mais...quero mais e quero inteira... a vida inteira.
Não quero medo tirando meu prazer. Não quero medo de viver nem de morrer.
Mas temo ser pega pelas ciladas da vida, pelas seduções baratas, pela minha carencia afetiva, pelos relacionamentos banais, pela fila do banco...e entrar num ritmo em que eu perca a conexão com a minha alma.

 A morte é minha amiga, ela está ao meu lado e me pergunta - você quer fazer? Faça agora, pois amanhã eu posso te pegar.

E nesta atenção e intenção vou sim transmutando os padrões de "boa moça" para fazer um bom caminho. E me perguntando sempre se está certo, se estou bem, se faz sentido. E pedindo também ao meu Mestre Interior que me guie, me oriente e não me abandone.

"dormire è um può morrire"


Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte.
Arthur Schopenhauer


Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"
 Mario Quintana

segunda-feira, 18 de março de 2013

Meditação Sufi


O HOMEM QUE CAMINHAVA SOBRE A ÁGUA

Gosto muito dos ensinamentos sufis.
Este traz a reflexão dual: Fé e Razão.
Na pureza conseguimos integrar estas partes, sabendo um bocadinho mas respeitando sempre o Mistério e vivendo-o como é. A VIDA!




Segue então:

O HOMEM QUE CAMINHAVA SOBRE A ÁGUA


Um dervixe de mentalidade meio simplória, de uma escola austeramente piedosa, caminhava certo dia pela margem de um rio. Ia absorto, concentrado em problemas escolásticos e de natureza moral, pois era esta a forma assumida pelo ensino sufi na comunidade a que ele pertencia.

Equiparava-se ali a religiosidade emocional com a busca da Verdade essencial.

De repente, seus pensamentos foram interrompidos por um forte grito. Alguém estava repetindo o apelo dervixe.

- Isto carece de sentido - disse para si mesmo - pois está emitindo incorretamente as sílabas. Em vez de pronunciar 'ya hu', ele está dizendo 'u ya hu'.

Pensou de imediato que era seu dever, como estudante mais aplicado, corrigir aquela pessoa desafortunada, que talvez não tivesse tido a oportunidade de ser orientada corretamente, dai que estivesse, quem sabe, fazendo o melhor que podia para interpretar a idéia contida atrás dos sons.

Desse modo, alugou um bote e se acercou da ilhota que ficava do outro lado do rio e de onde parecia vir o chamado.

Foi encontrar, então, sentado numa cabana de juncos, um homem vestido com um manto dervixe, que movia a cabeça e os braços seguindo o ritmo da frase iniciatória.

- Meu amigo, - disse o dervixe que viera no bote -, estás pronunciando incorretamente a frase. Cabe a mim dizer-lhe isso, já que há mérito tanto para aquele que oferece como para o que aceita conselho. Eis como se pronuncia a frase, - E a disse então.

- Obrigado - disse humildemente o outro dervixe.

O primeiro dervixe voltou a seu barco, muito satisfeito por ter praticado uma boa ação. Afinal, já foi dito que um homem capaz de repetir a fórmula sagrada corretamente poderia inclusive caminhar sobre as ondas; algo que nunca presenciara, mas que alimentara sempre a esperança - por alguma razão desconhecida - de realizar.

Agora nenhum som proveniente da cabana de juncos se fazia ouvir, mas estava certo de que sua lição fora bem acolhida.

Foi então que escutou um vacilante 'u ya', começando o segundo dervixe a repetir a frase da mesma forma de antes...

Enquanto o primeiro dervixe pensava no que acontecia, refletindo sobre a perversidade dos seres humanos e sua persistência no erro, observou de súbito um estranho espetáculo. Deixando a ilhota, o outro dervixe se acercava dele caminhando sobre a superfície das águas...

Surpreso, o primeiro dervixe parou de remar. O outro chegou junto dele e disse:
- Irmão, lamento incomodá-lo, mas tive que vir aqui para perguntar-lhe sobre a maneira usual de pronunciar a repetição da fórmula como me ensiou, pois me é difícil recordá-la.