segunda-feira, 18 de março de 2013

O HOMEM QUE CAMINHAVA SOBRE A ÁGUA

Gosto muito dos ensinamentos sufis.
Este traz a reflexão dual: Fé e Razão.
Na pureza conseguimos integrar estas partes, sabendo um bocadinho mas respeitando sempre o Mistério e vivendo-o como é. A VIDA!




Segue então:

O HOMEM QUE CAMINHAVA SOBRE A ÁGUA


Um dervixe de mentalidade meio simplória, de uma escola austeramente piedosa, caminhava certo dia pela margem de um rio. Ia absorto, concentrado em problemas escolásticos e de natureza moral, pois era esta a forma assumida pelo ensino sufi na comunidade a que ele pertencia.

Equiparava-se ali a religiosidade emocional com a busca da Verdade essencial.

De repente, seus pensamentos foram interrompidos por um forte grito. Alguém estava repetindo o apelo dervixe.

- Isto carece de sentido - disse para si mesmo - pois está emitindo incorretamente as sílabas. Em vez de pronunciar 'ya hu', ele está dizendo 'u ya hu'.

Pensou de imediato que era seu dever, como estudante mais aplicado, corrigir aquela pessoa desafortunada, que talvez não tivesse tido a oportunidade de ser orientada corretamente, dai que estivesse, quem sabe, fazendo o melhor que podia para interpretar a idéia contida atrás dos sons.

Desse modo, alugou um bote e se acercou da ilhota que ficava do outro lado do rio e de onde parecia vir o chamado.

Foi encontrar, então, sentado numa cabana de juncos, um homem vestido com um manto dervixe, que movia a cabeça e os braços seguindo o ritmo da frase iniciatória.

- Meu amigo, - disse o dervixe que viera no bote -, estás pronunciando incorretamente a frase. Cabe a mim dizer-lhe isso, já que há mérito tanto para aquele que oferece como para o que aceita conselho. Eis como se pronuncia a frase, - E a disse então.

- Obrigado - disse humildemente o outro dervixe.

O primeiro dervixe voltou a seu barco, muito satisfeito por ter praticado uma boa ação. Afinal, já foi dito que um homem capaz de repetir a fórmula sagrada corretamente poderia inclusive caminhar sobre as ondas; algo que nunca presenciara, mas que alimentara sempre a esperança - por alguma razão desconhecida - de realizar.

Agora nenhum som proveniente da cabana de juncos se fazia ouvir, mas estava certo de que sua lição fora bem acolhida.

Foi então que escutou um vacilante 'u ya', começando o segundo dervixe a repetir a frase da mesma forma de antes...

Enquanto o primeiro dervixe pensava no que acontecia, refletindo sobre a perversidade dos seres humanos e sua persistência no erro, observou de súbito um estranho espetáculo. Deixando a ilhota, o outro dervixe se acercava dele caminhando sobre a superfície das águas...

Surpreso, o primeiro dervixe parou de remar. O outro chegou junto dele e disse:
- Irmão, lamento incomodá-lo, mas tive que vir aqui para perguntar-lhe sobre a maneira usual de pronunciar a repetição da fórmula como me ensiou, pois me é difícil recordá-la.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Brincantes - o que é a vida sem brincar?

O ano começa e vamos buscar nos mapas as inspirações e indicações para a caminhada. Muitas previsões. Ano 06, ano da serpente, Saturno, Obaluayê...
São indicadores das energias que se movimentarão em nossas vidas. Mas, e o coração?Aquele norte interno, pulsante. O que ele pede?
É um ano de muitas aberturas e escolhas. A dualidade na superficie. A lentidão, a sabedoria. Eu tenho sentido uma pausa.
Como se me pedissem para respirar melhor. Respirar presente. Um slowly. Um devagar devagarinho.
Alguns projetos e oficinas me pedindo atenção e eu dizendo: dá para ficar melhor.
Estudos, cursos...uma vontade de ficar em turma conversando sobre assuntos em comum.
O bom de cursar é isso, encontra-se pensamentos parecidos ou discussões pertinentes que te levam a um novo olhar.
Trocar o papel de estudante para professor é impossível. Não dá para deixar de aprender, de compartilhar, de brincar e dançar a vida.
Trocamos apenas o lugar como numa brincadeira de pega ou esconde-esconde. A liderança cabe apenas naquele momento, depois fica tudo igual.
Aprendemos tanto na infancia e derepente vamos abandonando tudo, entregando tudo à dona Soberba e à Dona Arrogancia.
Quem são essas donas que vêem nos roubar a inocencia do não saber e a curiosidade do aprender?
Vivi esta última década voltada para a espiritualidade, para as práticas e para os trabalhos do connhecimento do eu e seu desenvolvimento. E agora, recebendo um presente do destino volto às artes com tanto prazer e alegria.
Digo isso por me reconhecer nos desenhos, na argila, na dança, na roda.
 Quanto tempo as moiras  rodam a vida  tecendo o  fio que vai entrelaçando acontecimentos, emoções, aprendizados, sofrimentos, dores, amores, formando um tapete voador rumo às estrelas.
Muito se perde no não reconhecimento.
Na falta de observação.
No ato automático.

Quem sou eu? Pra onde estou indo?

Que cheiro sou eu?

Que amor expresso agora?

E assim seguindo sinais, vivendo experiencias e encontrando vidas, inicio mais um ano!

Nos veremos em breve!

Segue um video do Brincante e sua escola - Brincantes Antonio e Rosane! Salve!!!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Pi...Pessoa e reflexões

O Sensacionismo

Sentir é criar.
Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o Universo não tem ideias.
- Mas o que é sentir?
Ter opiniões é não sentir.
Todas as nossas opiniões são dos outros.
Pensar é querer transmitir aos outros aquilo que se julga que se sente.
Só o que se pensa é que se pode comunicar aos outros. O que se sente não se pode comunicar. Só se pode comunicar o valor do que se sente. Só se pode fazer sentir o que se sente. Não que o leitor sinta a pena comum [?].
Basta que sinta da mesma maneira.
O sentimento abre as portas da prisão com que o pensamento fecha a alma.
A lucidez só deve chegar ao limiar da alma. Nas próprias antecâmaras é proibido ser explícito.


Sentir é compreender. Pensar é errar. Compreender o que outra pessoa pensa é discordar dela. Compreender o que outra pessoa sente é ser ela. Ser outra pessoa é de uma grande utilidade metafísica. Deus é toda a gente.
Ver, ouvir, cheirar, gostar, palpar - são os únicos mandamentos da lei de Deus. Os sentidos são divinos porque são a nossa relação com o Universo, e a nossa relação com o Universo Deus.
(...) Agir é descrer. Pensar é errar. Só sentir é crença e verdade. Nada existe fora das nossas sensações. Por isso agir é trair o nosso pensamento.
(...) Não há critério da verdade senão não concordar consigo próprio. O universo não concorda consigo próprio, porque passa. A vida não concorda consigo própria, porque morre. O paradoxo é a fórmula típica da Natureza. Por isso toda a verdade tem uma forma [?] paradoxal.
(...) Afirmar é enganar-se na porta.
Pensar é limitar. Raciovinar é excluir. Há muito que é bom pensar, porque há muito que é bom limitar e excluir.
(...) Substitui-te sempre a ti próprio. Tu não és bastante para ti. Sê sempre imprevenido [?] por ti próprio. Acontece-te perante ti próprio. Que as tuas sensações sejam meros acasos, aventuras que te acontecem. Deves ser um universo sem leis para poderes ser superior.
São estes os princípios essenciais do sensacionismo. (...)
Faze de tua alma uma metafísica, uma ética e uma estética. Substitui-te a Deus indecorosamente. É a única atitude realmente religiosa (Deus está em toda a parte excepto em si próprio).
Faze do teu ser uma religião ateísta; das tuas sensações um rito e um culto. (...)

Fernando Pessoa, in 'Sobre «Orpheu», Sensacionismo e Paùlismo'








Assim como em "Avatar" , o filme "Life of Pi" está se tornando um best seller em interpretações psicologicas a respeito das representações animais e o rapaz,  Piscine.
Acho muito interessante a explicação que vem de cada um, mas o mais importante é o que sentimos diante da obra.
A viagem!
O buscador!
E as descobertas!
Deste jeito entro no cinema. Escuro total, coloco os óculos que me levarão à uma outra dimensão me convidando a sentir. O que emerge em mim?
As imagens em 3D se aproximando e me convidando a cada momento...entre, entre...e assim sou levada para o mar.
E as águas, as emoções...a delicadeza.
Ang Lee faz isso comigo. De repente esqueço o que está acontecendo, entro num turbilhão de amor que mal percebo quem são os personagens.
Foi assim com o "Segredo de Broukback Mountain".
O julgamento vai embora, o entendimento vai junto e fica o sentir. Nossa como é bom sentir e perceber como isso reverbera na história pessoal.
Não posso deixar de dizer da imensa emoção quando sem comida e enfraquecidos Pi dá colo e carinho à Richard Parker.
Colo ao instino? À sombra? À parte animal?
Não importa.
A compaixão seja lá de quem for será sempre compaixão.
Quero ver o filme mais vezes, e em 3D e no cinema. Não é filme para ter piratinha em casa não.
Como no Titanic o navio vira barquinho. Por favor!!!!
Este ano, numerologicamente 6, com Saturno na regencia, vale o convite.
Vamos sentir com sabedoria. Trazendo o Divino para as nossas vidas. A fé. O amor.
A melhor escolha...

Amor...A,mar!